Sapporo

Em 2018 estávamos inquietos para aumentar nosso repertório nipônico. O Japão sempre foi um destino certo nos nossos keikens. Tokyo quantas vezes ficarmos, tantas vezes teremos novas descobertas. É uma parada quase obrigatória. Mas, além de Tokyo, queríamos um outro tipo de experiência. 

Há algum tempo as crianças já pediam para viajar para ver neve. Nosso única experiência foi frustrada. Em 2011 fomos passar o natal em NY, período que seeempre neva, e justamente naquele ano não caiu um floco sequer.

New York, USA

Íamos viajar no inverno. Quanto mais pra cima, mais frio. Quanto mais frio, mais chance de neve. Procurando no mapa, ao norte, o nome mais familiar que apareceu foi Sapporo. E a primeira lembrança, a cerveja

Sapporo

Aos poucos descobrimos que era muito mais do que a cerveja. Sapporo, capital da ilha de Hokkaido, é um destino típico de inverno, com baixas temperaturas e neve em boa parte do ano. Tem festival de neve, estações de ski, fábricas de cerveja e chocolate, e uma super estrutura para curtir o inverno. É uma cidade moderna e intensa, com um shopping subterrâneo,  agitado como um formigueiro. Fechado, vamos ver neve em Sapporo!! 

Sapporo, Japan

Passei alguns meses rezando, torcendo, acendendo incensos e mentalizando Sapporo com neve, Sapporo com neve…… Então, eis que chegou a hora. Desembarcamos em Narita numa manhã cinzenta de quinta-feira. Fizemos imigração, pegamos as malas e seguimos para a  alfândega. O oficial pediu para colocar as malas no balcão e perguntou “where are you going? LC respondeu Sapporo. O oficial deu um pulo para trás, e com cara de espanto perguntou “what the hell are you going to do there?”. A surpresa foi tanta, que ele até desistiu de abrir as malas. Só sorriu, desejou boa sorte e fez sinal para sairmos. Sinal de que as rezas podiam ter sido demais!

Quando chegamos na sala de embarque um segundo sinal. Voo atrasado, motivo: nevasca no destino!! Foi a hora de começar a rezar para parar de nevar. Mas em pouco tempo estávamos embarcando e depois de 1h30 de voo, aterrissamos em Sapporo. A pista coberta de neve!!

Tudo certo. Chegamos e fomos direto para Uniqlo do aeroporto comprar roupas térmicas para encarar o metrô e a caminhada até o hotel.

Quando saí da estação fiquei assustada. O hotel era a dez minutos andando, mas pra todo lado só se via neve. Estávamos com duas malas de rodinha e um carrinho de bebê!! Não vai dar certo!! Foi nossa primeira experiência na neve. Um pouco tensa, mas foi uma diversão.

Jasmac Plaza

Foi difícil escolher onde ficar em Sapporo. Lá tem muitos hotéis, mas poucos tem site em inglês. Quando tem, não oferecem todos os tipos de quarto. Queríamos um quarto japonês. Com persistência conseguimos numa agência online local a Japanican.

O Jasmac tinha tudo que queríamos, um misto de hotel com ryokan e onsen, com localização central, em Susukino, famosa área de entretenimento.

Da New Chitose Airport Station até a Susukino Station são 50 minutos, a um custo de USD 12 p/p. Depois, dez minutos andando até o Jasmac. Moleza, dez minutos andando no Japão não é nem um pulo. De táxi, 25 minutos, por ¥ 20,000. Fora de cogitação! O metro foi muito mais divertido.

O hotel tem 153 quartos, de vários tipos, com diárias que vão de USD 150 a USD 300, com café da manhã. O onsen tem dois grandes banhos coletivos e dois open air, com águas termais de uma das fontes mais antigas da região.

Apesar de ser um hotel grande, a comunicação é difícil. Até mesmo na recepção, o inglês é básico, saiu um pouco do script eles se perdem. Mas o importante é que são atenciosos e sempre querem ajudar.

Ficamos em um quarto amplo, todo de tatame. No final da tarde, em um ritual sincronizados, dois funcionários montavam futons e preparavam o quarto para o nosso descanso. Uma atração à parte.

Onsen

Os onsens são como clubes. Os japoneses são sócios, e num ritual diário vão para os onsens tomar banho, se alimentar e depois trabalhar.

Foi em Sapporo nossa primeira experiência num. No quarto tinham chinelos japoneses e yukatas próprios para o Onsen. Junto com os kimonos tinha um manual de como vestir!! “Lado esquerdo por cima do direito para os vivos, e lado direito por cima do esquerdo os mortos”. Era melhor não errar!! Tinha um manual do Onsen também, mas este não lemos.

Vestidos com os yukatas, com o lado esquerdo por cima do direito, fomos para o Onsen.

Na entrada a recepcionista veio gesticulando rápido. Como falei, inglês não é o forte de Sapporo, mas era claro o que ela queria dizer: Homens para um lado, mulheres para o outro. Logo pensei que era melhor ter lido o manual do Onsen também!!!! Nos despedimos dos meninos e fomos encarar a aventura sozinhas.

Já no vestuário, KK com cara de espanto perguntou: Mãããee porque elas têm tanto pelo? Num reflexo automático fiz gesto de fala baiiiixo!! Mas logo lembrei que ninguém ia entender mesmo!!!. Tiramos os yukatas e entramos com nossos biquínis. Fomos colocando os pés em uma a uma das piscinas para ver se suportarmos a temperatura, a maioria acima de 40°. De repente um Senhorinha, na faixa dos 80, se aproxima, falando japonês, claro!! Com gestos delicados, ela explica que não podíamos usar biquínis, se quiséssemos cobrir as partes íntimas era só com a toalhinha mesmo. Também não devíamos ficar colocando os “pezinhos” nas piscinas. Primeiro tínhamos de tomar um banho bem tomado, apontando para umas baias com banquinhos, bacias, duchas e vários produtos de higiene. Só depois de bem higienizadas e que podíamos entrar nas piscinas.

Cumprimos o ritual e fomos para as piscinas. Primeiro a maior, que é rasa, uns 60 cm, e menos quente. Nossa amiga já não está mais à vista. Quando fomos mudar de piscina nos deparamos com uma porta de vidro. Olhei para fora e lá estava ela, em uma piscina ao ar livre. Ela fez sinal nos chamando. O termômetro marcava -10°. Quem disse que deu coragem. Ficamos estáticas na porta. Ela saiu da piscina e foi nos buscar. Colocou uma toalha quente no ombro da KK e nos puxou falando “sā sā” (さあ vamos lá). Não estava só frio, nevava, mas a piscina estava 40°.

Com um super sorriso no rosto, nossa amiga assistiu nossa felicidade entrando na piscina. Não era só um keiken tátil, era também visual. A neve caindo e derretendo na água quente era encantadora. Fiquei curtindo o choque térmico, enquanto KK fazia bonequinhos de neve e depois derretia na água.

Depois fomos pra uma outra sala hidratar o corpo, secar os cabelos, vestir os kimonos e então encontrar os meninos que nos esperavam ansiosos.

Seguindo a dica da nossa amiga, fomos almoçar no restaurante do onsen. Bem a vontade, descalços, vestindo apenas os yukatas. Totalmente relaxados e comida deliciosa.

Não dá para saber se a experiencia teria sido melhor se tivéssemos lido o manual. O fato é que as tantas surpresas que tivemos se transformaram em keikens divertidos.

Ishiya Chocolate factory – Shiroi Koibito Park

A Fantástica Fábrica de Chocolate foi um dos filmes marcantes da minha infância, ainda na era analógica, quando esperávamos ansiosos pela Sessão da Tarde. JP e KK, já na era da internet e Netflix, assistiram várias vezes a versão de Tim Burton de 2005.

Na Ishiya Chocolate Factory de Sapporo, não fomos recebidos por Willy Wonka, e nem encontramos oompa loompas trabalhando, mas é quase impossível não sentir uma sensação de sonho realizado, uma deliciosa nostalgia da infância.

Localizada no Shiroi Koibito Park, a Fábrica fica a 10 minutos andando da Miyanosawa Station. É aberta diariamente de 9 às 17h com entradas que custam 600yens. No dia que fomos estava nevando e a KK estava no carrinho. A caminhada foi um pouco mais  demorada, em compensação a diversão foi maior!!

Na entrada você é recepcionado com um dos melhores biscoitos que já comi na minha vida, o Shiroi Koibito, um Chocolat Blanc et Langue de Chat, que é o carro chefe da  Ishiya. Na saída compramos várias caixas com intenção de dar de presente. Mas só uma chegou por aqui, e nem essa conseguimos dar!!! O biscoito  é muiiiito bom, foi uma gula sem maldade!!

No complexo tem várias atividades, desde a visita guiada, onde podemos observar todo processo da produção desde o ensanduichar do chocolate entre os biscoitos até o empacotamento individual; além de sessões sobre a história do chocolate,  um espaço bem maneiro com uma exposição de brinquedos antigos, o Old Toy Box; cooking class for children, restaurantes, cafés, e uma confeitaria com todos os produtos Ishiya, incluindo o Shiroi Koibito. 

No final da nossa visita fomos nos divertir no Parque. Já estava escuro e continuava nevando, como num sonho, os flocos caíam  em câmera lenta. Foi um show!!!

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